No topo da Escadaria
Nobre, a sala dos Passos Perdidos, adjacente à sala das Sessões,
funciona como o grande centro de encontros e desencontros entre os
deputados, membros do governo e jornalistas.
A sala, da autoria de Ventura
Terra, foi erguida por cima do átrio, respeitando e seguindo
o traçado e dimensões deste, já por si adaptadas
ao desenho original da igreja conventual beneditina.
O tecto foi construído
em abóbada de berço - descarregando, nos extremos, em
4 colunas com fuste de mármore rosa, capitéis compósitos
e bases de bronze dourado -, e aligeirado e iluminado artificialmente
através de uma clarabóia de ferro e vidro amarelo e
rosado, lembrando as soluções adoptadas pelos arquitectos-engenheiros
franceses e ingleses (muito particularmente a parisiense Gare d'Orsay,
aliás concebida pelo mestre de Ventura Terra, Victor Laloux,
que o viria novamente a influenciar no projecto do Pavilhão
das Colónias, na Exposição de Paris, em 1900).
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O tecto está
decorado com pinturas em dois grupos de três figuras alegóricas,
um em cada uma das duas lunetas situadas nos extremos da abóbada
(a Lei, a Justiça e a Sapiência; a Independência,
a Soberania e a Pátria), respectivamente da autoria de João
Vaz e de Benvindo
Ceia.
As paredes, de mármore branco e rosa, são marcadas por
18 pilares duplos adossados, e decoradas, entre eles, com 6 painéis,
pintados a óleo sobre tela por Columbano
Bordalo Pinheiro.
O pintor, que já se havia dedicado a decorações
em edifícios públicos, tais como as do Museu de Artilharia,
seguiu as exigências da encomenda de 1921 na representação
das 22 figuras da História portuguesa, desde o séc.
XIII ao séc. XIX, ligadas à política, à
oratória e à administração pública.
As imagens das pinturas retratam as seguinte personalidades históricas:
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D.
Dinis, João
das Regras e D.
João II;
- Febo
Moniz, Padre
António Vieira, D.
Luiz de Menezes (Conde da Ericeira), e João
Pinto
Ribeiro;
- Conde
de Castelo Melhor, D.
Luís da Cunha, Marquês
de Pombal e José
Seabra da
Silva;
- Manuel
Fernandes Tomáz, Manuel
Borges Carneiro e Joaquim
António de Aguiar;
- Mouzinho
da Silveira, Duque
de Palmela, Duque
de Saldanha e José
da Silva Carvalho;
- Passos
Manuel, Almeida
Garrett, Alexandre
Herculano e José
Estevão de Magalhães.
Estes
seis painéis de Columbano Bordalo Pinheiro formam um conjunto
histórico com um discurso que se desenvolve cronologicamente,
desde a tela onde estão representadas as personagens medievais,
até àquela onde surgem as figuras contemporâneas.
A sua disposição é agrupada e a sua apresentação
faz-se no sentido da leitura ocidental (da esquerda para a direita).
O facto de não haver uma recriação de diferentes
planos de fundo (que integrem as personagens nas épocas e constituam
referências características) e de todos os painéis
terem o mesmo céu enevoado, estruturas arquitectónicas
simples - muros ou degraus -, igual cromatismo (predominância
dos ocres amarelos, vermelhos e sépias, com valores tonais)
e a mesma luminosidade (dourada, da direita para a esquerda e sem
projecção de sombras) confere valores cenográficos
ao conjunto, acentuando a apresentação planificada dos
tempos históricos representados. A distingui-los, apenas os
trajos típicos de cada época e a qualidade do retrato
que individualiza os seus actores em descanso, imortalizados em atitudes
fora de cena, (nas primeiras um retrato imaginário, nas últimas
um retrato documental).
Comprometidas ainda com o Romantismo na carga dramática da
representação, e tocando já o Naturalismo ao
nível da plasticidade das formas, da diluição
dos seus contornos nos fundos e da liberdade da mancha cromática,
estas seis pinturas não só marcam a presença
mais significativa de Columbano no Palácio de São Bento,
mas também assumem importância na Obra do artista.
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As paredes recuadas
ao fundo da sala, no acesso à escadaria, foram pintadas, à
esquerda, por Benvindo
Ceia, representando Viriato (herói lusitano resistente
à ocupação romana), e, à direita, por
João
Vaz, com uma alegoria à Convenção de Évora-Monte
(assinada em Maio de 1834, pondo termo à guerra civil entre
liberais e absolutistas, com o consequente exílio de D. Miguel).
Por cima das
portas laterais, encontram-se quatro leões em gesso patinado
da autoria do escultor José
Neto.
À esquerda,
no acesso à sala da República (também chamada
da Imprensa, por nela decorrerem as conferências de imprensa),
está exposta uma cabeça de República, em bronze,
da autoria de Francisco
dos Santos, datada de 1910.
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