«O que verdadeiramente me preocupa é a dimensão, qualquer que seja - da apatia cívica face à democracia representativa e ao processo político de base partidária, contida na abstenção verificada.
Sobre esta específica motivação, temos o dever de refletir. Porque é que, em progressão lenta, mas constante, descrê o eleitor do voto? Não estou certo da resposta, mas o mais provável é que o eleitor reaja negativamente à impressão de que o seu voto vale pouco ou, em qualquer caso, menos do que ele gostaria.
Escolher, de tempos a tempos, quem deve decidir por ele não é, provavelmente, uma tarefa exaltante, mas continua a ser a essência da democracia representativa, inviabilizada que foi, com o alargamento do espaço político, a democracia direta. Esta não poderá ser reposta qua tale mas, ao invés de nos acolhermos, ao resignado ensinamento de Kant, ou seja, o de "fazermos como se o que não será, talvez não devesse ser", melhor é que tentemos recuperar da democracia direta a sua porção recuperável através do reforço possível da dimensão diretamente participativa dos cidadãos.
Esta pode ser ampliada, logo, deve.»
Deputado António de Almeida Santos (PS) – Reunião Plenária, 16 de junho de 1994