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A ESTRELA VERMELHA VEM MARCHANDO PARA O OCIDENTE (1944)


Na sessão da Assembleia Nacional de 3 de abril de 1944, o Deputado Querubim Guimarães dirige-se ao Ministro do Interior, Mário Pais de Sousa, elogiando-o pela forma como tem atuado “em favor da manutenção da ordem e da repressão dos costumes” e no sentido “de moralizar, orientar e ordenar a vida social e a vida política do País”.


Fachada principal do Palácio de São Bento, Bertrand & Irmãos, Lda., 1944, Arquivo Fotográfico da Assembleia da República.

Ao elogio, segue-se um alerta sobre a proliferação no país de “literatura muito estranha” e um apelo para a censura prévia de publicações “nocivas”, contrárias à “tradição cristã” e de pendor “comunizante”.

A título de exemplo, cita um artigo das Seleções do Reader’s Digest, dedicado ao problema da escassez de maridos nos Estados Unidos, em que o autor conclui que “o sistema de um marido para cada mulher só existe realmente quando o número de homens é suficiente para torná-lo possível", depois de referir que "em alguns países da Europa, mesmo na Inglaterra, era grande o número de mulheres que, por se não terem podido casar, recorriam aos maridos das outras".

O Deputado Querubim Guimarães considera que o autor deste artigo “de sexo indeterminado, que tem um nome muito extenso, chamado Amram Schimfeld”, difunde “prenúncios alarmantes da invasão comunizante que vem lá do Oriente”, que põe em causa a “tradição que impõe obrigações restritas a todos os Portugueses na orientação superior de uma moral social inequívoca”.

Considera que proliferação desta literatura, consumida por “senhoras, mulheres, famílias, jovens” é um sinal de que “a estrela vermelha vem marchando para o Ocidente, proporcionando-nos, porventura, amargas horas no futuro”.

O Deputado apela, assim, ao Ministro que tome medidas “contra esta prática abusiva da importação de uma literatura perniciosa, que está a pedir lazareto, como acontece com os empestados...”.