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"PONTE DE ENTRE-OS-RIOS SOBRE O RIO DOURO: MEMÓRIA DESCRITIVA" (1881)


SILVA, António Ferreira de Araújo e – Ponte de Entre os Rios sobre o rio Douro : memória descriptiva. Revista de Obras Públicas e Minas, tomo XIV, n.º 157-158 (jan.-fev. 1883), p. 1-24. Cota: 162/1900 (7) (2771-2787).

Assegurando a ligação entre Penafiel e Castelo de Paiva, a Ponte Hintze Ribeiro, mais conhecida como Ponte de Entre-os-Rios foi construída entre os anos de 1884 e 1887, segundo projeto do engenheiro António de Araújo e Silva (1843-1898). De tabuleiro metálico de cerca de 300 metros sobre 6 pilares de pedra, a empreitada esteve a cargo da empresa belga Société Anonyme Internationale de Construction et Entreprise de Travaux Publics. Hintze Ribeiro dirigia interinamente, por esses anos, a pasta das Obras Públicas.

Quanto a Araújo e Silva, autor do projeto e da memória descritiva, datada de 10 de fevereiro de 1881, que ocupa na íntegra o n.º 157-158 da Revista de Obras Públicas e Minas, era natural de Oliveira de Azeméis. Com diploma de Engenheiro de Pontes e Estradas e de Engenheiro de Minas, atribuído pela Academia Politécnica do Porto em 1868, havia sido nomeado, em 1869, Engenheiro da Repartição Distrital de Obras Públicas de Aveiro. Promovido a Engenheiro-chefe, no ano seguinte, em 1875 passa a Diretor das Obras Públicas do Distrito de Aveiro. Constam do seu currículo outros projetos congéneres, como as pontes metálicas de Ermida, sobre o Douro, e de Vila do Conde, ou a ponte de pedra de Caninhas, sobre o Paiva, além de projetos de construção ou melhoramento de vários edifícios civis da região Norte.

Desde meados do século XIX, estava em marcha em Portugal o investimento no transporte ferroviário, processo acelerado, sob os ventos da Regeneração, em 20 de junho de 1860, com o decreto de constituição da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses. Estes viriam a constituir-se como infraestrutura fundamental no transporte (exclusivo ou complementar) de pessoas e mercadorias e motor de desenvolvimento económico nacional. As pontes eram, neste processo, um fator essencial, como afirma o autor:

“O caminho de ferro do Douro, como tronco de viação que é, necessita de raízes e radículas que lhe possam levar a seiva que o deve aviventar. Esta seiva, que no caso presente se consubstancia no transporte de mercadorias e passageiros, não pode ser apropriada ao desejado desenvolvimento da exploração do caminho de ferro, sem que as relações entre o tronco, raízes e radicular seja íntima e contínua, essencialmente. A questão da baldeação de mercadorias através de um rio como o Douro, tanto nos casos de estiagem como nos de grandes cheias, é tão importante e tão desanimadora, que por si só basta para afugentar das estações do caminho de ferro as muitas mercadorias que ali forçosamente iriam abordar, se as comunicações entre as margens contínuas, sem intervenção de barco.” Entre a Régua e o Porto, acrescenta, numa extensão de 75 quilómetros de rio, não existia qualquer ponte estabelecendo a ligação entre as duas margens, assumindo o lugar de Entre-os-Rios condições de eleição: pela facilidade de acesso a materiais de construção, pelo estreitamento das margens imposto por maciços rochosos, pelo facto de ser ponto de confluência de duas estradas reais e de duas estradas distritais. A construção da ponte, adianta o autor, é uma obra de inquestionável utilidade pública, que irá “transformar completamente aquela região, desenvolvendo o comércio, a indústria e, mais positivamente falando, a agricultura”, justificando, por isso, um investimento considerável, conforme o orçamento detalhado por rubricas:

Expropriações . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   150$200

Fundações de pilares . . . . . . . . . . .  14:501$860

Pilares e estribos . . . . . . . . . . . . . .   23:307$690

Tramo metálico e dependência . . . 57:710$000

Pavimento, passeios e calçadas . . . . .  691$860

Obras acessórias . . . . . . . . . . . . . . . .  1:000$000

Administração . . . . . . . . . . . . . . . . . .  2:474$700

Despesas imprevistas . . . . . . . . . . . . . . 163$690

                                         Soma . . . .  100:000$000

114 anos após o início do tráfego, a Ponte de Entre-os-Rios ficou tristemente célebre pelo seu colapso, em 4 de março de 2001, na sequência de vários dias de chuva intensa e consequente aumento do caudal do rio, naquele que se terá tornado o acidente viário português mais mediatizado, do qual resultaram 59 mortes.

Esta peça documental, que elenca e justifica de forma detalhada todas as opções técnicas propostas para a sua construção, passa agora a poder ser consultada em formato digital.

A Biblioteca Passos Manuel tem vindo a digitalizar títulos que se encontram em domínio público, quer provenientes da coleção da Biblioteca das Cortes, quer pertencentes a espólios à sua guarda. Os exemplares digitalizados ficam disponíveis em acesso público, universal e gratuito a partir do catálogo bibliográfico, do Registo Nacional de Objetos Digitais e da Europeana. Nesta secção destacam-se alguns desses títulos.