Realizou-se no dia 20 de Janeiro, na Sala de Leitura da Biblioteca da Assembleia da República, o lançamento do livro "António Lino Neto: intervenções parlamentares 1918-1926", organizado pelo Centro de Estudos de História Religiosa, coordenado por António Matos Ferreira e João Miguel Almeida, editado em parceria com a Texto Editores, na Colecção Parlamento.
O Livro foi apresentado pelo Prof. Doutor Manuel Clemente, Bispo do Porto, e pelos coordenadores da obra, Prof. Doutor António Matos Ferreira e Prof. Dr. João Miguel Almeida.
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António Lino Neto: intervenções parlamentares 1918-1926, organizado pelo Centro de Estudos de História Religiosa, coordenado por António Matos Ferreira e João Miguel Almeida.
É muito oportuno, no actual contexto, recordar os vultos fundadores da República. E é oportuníssimo juntar aos habituais outros menos lembrados, que deram uma contribuição essencial para que o regime não se esgotasse na sua primeira vigência. (...)
Ficamos a dispor duma informação indispensável para compreendermos a movimentação interna e externa do catolicismo português na I República. Pela biografia e pelos discursos de António Lino Neto, que dirigiu o Centro Católico Português entre 1919 e 1934, perceberemos como a militância crente mais hierarquicamente autorizada, mesmo no âmbito parlamentar, protagonizou muito mais do que um simples desejo de recuperação ou “reconquista” de antigas posições, hipoteticamente perdidas com a “Lei de Separação” de 1911. Na verdade, de Abúndio da Silva nos alvores do novo regime a António Lino Neto no parlamento republicano, deparamos muito mais com a construção do futuro do que com saudades do passado. Não se tratava de “reconquistar”, mas de inaugurar.
Em António Lino Neto tudo é significativo. O seu percurso, de Mação a Coimbra, de Portalegre a Lisboa, dir-se-ia vir do Portugal profundo à profundidade nova que Portugal ganharia: do primeiro, o interesse pelo município e a agricultura; da segunda, o (re)encontro do mais comum, como cidadania, e do mais englobante, como interesse nacional.
Isto mesmo lhe deu outra largueza nos relacionamentos e mais essencialidade nas ideias. Essencialidade – paredes meias com a sua religiosidade decantada – capaz de relativizar questões de regime ou episódios governativos. Não era ingénuo e conhecia muito bem as cenas e personagens daquela agitada altura. Era antes um estudioso sério dos assuntos, capaz de superar a rama, a moda, o grupo. Era já “personalista”, sabendo que as questões, mesmo tão graves como a da “liberdade” da Igreja e das suas instituições, não se conseguiriam resolver sem aproximar inteligências e desfazer equívocos, serôdios equívocos...
(Manuel Clemente, prefácio)
O Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR), criado em 1989, é uma unidade de investigação e formação da Universidade Católica Portuguesa. O seu trabalho envolve actualmente cerca de 70 investigadores numa rede nacional visando o estudo da problemática religiosa em Portugal nas épocas medieval, moderna e contemporânea. Muitos dos seus projectos têm sido feitos em parceria com outros grupos de investigação e instituições, tendo dessas parcerias resultado diversas publicações, entre as quais: a História Religiosa de Portugal e o Dicionário de História Religiosa de Portugal, editados pelo Círculo de Leitores; os Portugaliae Monumenta Misericordiarum; e o Guia Histórico das Ordens Religiosas em Portugal: das origens a Trento. O presente livro é mais um feliz resultado de um projecto em que colabora, neste caso, com a Assembleia da República.
António Matos Ferreira é doutorado em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, professor de história nesta mesma Faculdade e na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. É membro do CEHR. Tem realizado diversas comunicações e publicações científicas na área da História Religiosa e do Cristianismo moderno e contemporâneo. Dirige um projecto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia sobre “Os católicos portugueses na política do século XX”, no âmbito do qual se integra a presente publicação.
João Miguel Almeida é mestre em História Contemporânea e doutorando em História Institucional e Política pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. Colabora como investigador no CEHR e no Instituto de História Contemporânea (IHC) da FCSH. É autor de A Oposição Católica ao Estado Novo (1958-1974). Coordenou a edição de António de Oliveira Salazar – Pedro Teotónio Pereira: correspondência política (1945-1968), decorrente de um projecto do IHC. Participa no projecto “Os católicos portugueses na política do século XX”.