Busto de Camões, José Aurélio (1938), 1999, bronze e pedra lioz, Inv. MAR 1689.
Retrato de Luís de Camões, executado por Luís de Resende, séc. XIX, a partir do original de Fernão Gomes datado da segunda metade do séc. XVI, IAN/TT.
PEÇA DO MÊS | BUSTO DE CAMÕES
Busto de vulto pleno, em bronze, assente sobre peanha de pedra lioz com inscrição incisa contendo citação literária, nome e datas de nascimento e morte da personalidade representada, e ainda indicação das circunstâncias protocolares da sua incorporação no Parlamento português: “NENHUM QUE USE DE SEU PODER BASTANTE / PARA SERVIR A SEU DESEJO FEIO / IN OS LUSÍADAS CANTO VII / LUIZ DE CAMÕES / 1513 - 1580 / OFERTA / DO / GOVERNO DE MACAU / À / ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA / 1999”.
Concebida pelo escultor José Aurélio, esta obra caracteriza-se por uma incomum relação orgânica entre o busto e o suporte, com os volumes dispostos em simetria vertical e assentes na tangência de dois semicírculos, o que induz uma sensação de iminente oscilação horizontal. O implícito movimento pendular confere dinamismo ao conjunto, desafiando o equilíbrio das massas, aligeirando o peso e a solidez dos materiais, animando a oposição de cores e enriquecendo as formas geométricas depuradas. O minimalismo do registo superior sintetiza a efígie do poeta luso, pormenorizadamente documentada no desenho de Fernão Gomes e na descrição de Manuel Severim de Faria. Ao dispensar a verosimilhança fisionómica própria do retrato e recorrer aos pormenores mais expressivos da iconografia camoniana – a pala sobre o olho perdido em Ceuta, quando combatia as tribos kabilas, e a gola de canudos, típica do vestuário cortesão quinhentista e geradora de um interessante jogo de ondulações e de claro-escuro –, este busto assume-se como a imagem-signo de um dos maiores símbolos da cultura nacional. A metade inferior reitera a identidade da figura e transcreve um dístico épico (Cant. VII, Est. 85), cuja mensagem é significativa para o exercício do poder na instituição a que a obra foi oferecida.
Esta peça escultórica encontra-se no Átrio Principal do Palácio de São Bento, onde foi descerrada em cerimónia oficial, a 12 de maio de 1999, sete meses antes de Macau deixar de ser administrado por Portugal.