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"História do regímen republicano em Portugal", volume 1, p. 312.
Idem, p. 328.
Idem.
Primeira página da pauta de "A Portuguesa". Biblioteca Nacional de Portugal.
ULTIMATO BRITÂNICO (1890)
O Ultimato britânico de 1890 contra as pretensões portuguesas em África provocou um movimento social e político de exaltação patriótica e de contestação da Monarquia. Marcava o fim do pretendido “mapa cor-de-rosa”, que uniria Angola e Moçambique, sob a soberania de Portugal.
No final do século XIX, os países europeus disputam o continente africano, fonte importante de matérias-primas e riqueza.
A Conferência de Berlim, em 1884, reúne as principais potências com interesses em África, determinando a ocupação efetiva como critério para a posse dos territórios.
Portugal intensifica a realização de viagens exploratórias e operações militares, visando a conquista dos territórios entre Angola e Moçambique, com base no plano do “mapa cor-de-rosa”. Alemanha e França comprometem-se a não intervir naquela área, mas o Reino Unido opõe-se ao projeto, pois pretendia levar a cabo uma ligação ferroviária entre a África do Sul e o Cairo.
Em 11 de janeiro 1890, o Reino Unido lança um ultimato a Portugal, exigindo a retirada militar dos territórios entre Angola e Moçambique, sob a ameaça do rompimento de relações entre as duas nações europeias.
O Governo português, com o apoio do rei D. Carlos, cede de imediato ao Ultimato, gerando reações nacionalistas e antibritânicas, assim como um movimento de contestação à Monarquia.
No Parlamento, as respostas à ação do Governo, que entretanto se demitira, multiplicam-se.
Na
sessão de 15 de janeiro
, o Deputado Dias Ferreira declara:
“Se eu fosse membro do governo, só depois da esquadra inglesa entrar de morrões acesos nas águas do Tejo, e intimar o bombardeamento de Lisboa, ou depois de ocupar violentamente S. Vicente, Lourenço Marques ou qualquer outra região portuguesa, é que cederia, porque cedia à força, contra a qual não há resistência.
A nação portuguesa tem que ceder à força, mas não pode nem deve ceder ao medo.”
António José de Almeida, jovem estudante em Coimbra, escreve nas páginas d’
O Ultimatum
, de 23 de março de 1890, o artigo “Bragança, o último”, que o levaria a ser condenado a três meses de prisão:
“A 11 de janeiro, o
Ultimatum
do inglês; e o rei que até aí era um simples larápio, passou a ser, na boca das folhas revolucionárias, um grande gatuno; ele que até aí possuía uma inteligência medíocre, passou a ser simplesmente um bruto; ele que até aí exibia, no seu descoco de pedante, uma educação deficiente, passou a ser um pacóvio (…)”.
Os ingleses tornaram-se alvo de perseguição, com a imprensa a incentivar o ódio pela Grã-Bretanha. “Nas lojas de Lisboa, não se vendia a ingleses; nos alfaiates, não se costuravam figurinos ingleses; nas docas, não se descarregavam barcos ingleses; nos hotéis, não havia quartos para ingleses. A revista
High Life
foi rebatizada ‘portuguêsmente’
Alta Sociedade
, ao mesmo tempo que a palavra ‘inglesada’ passou a ser sinónimo de ‘roubo’”.
(1)
Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça compõem
A Portuguesa
, um manifesto de nacionalismo e de resistência aos britânicos, que será adotado como Hino Nacional após a Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910.
A crise do Ultimato terminaria, formalmente, em 1891, com a ratificação pelo Parlamento de um tratado anglo-luso, mas marcaria o final do regime monárquico em Portugal e a emergência do movimento republicano.
(1) Sardica, José Miguel, “Ultimato britânico”.
Dicionário de História da República e do Republicanismo
. Volume 3, Lisboa, Assembleia da República, 2014, p. 1029-1030.
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