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Cartaz editado em 1923 em homenagem aos combatentes da Grande Guerra. BNP.
"João Ninguém: soldado da Grande Guerra: impressões humorísticas do CEP", do Capitão Menezes Ferreira, 1921. BNP.
"Lacouture, o nove de abril, um posto de honra", ilustração de Menezes Ferreira. In "João Ninguém: soldado da Grande Guerra", BNP.
EVOCAÇÃO DA BATALHA DE LA LYS (1924)

A Batalha de La Lys, na Flandres, travada a 9 de abril de 1918, marca tragicamente a participação de Portugal na Grande Guerra (1914-1918), com uma ofensiva do exército alemão a derrotar as forças portuguesas, que, desfalcadas e física e moralmente esgotadas, deveriam ser rendidas nesse mesmo dia.

O confronto provoca 398 mortos e 6585 prisioneiros de guerra entre os militares portugueses (1), representando o declínio da presença em França do Corpo Expedicionário Português (CEP). (2)

A 9 de abril de 1924, a Câmara dos Deputados assinala o sexto aniversário da Batalha de La Lys, prestando homenagem aos portugueses mortos na Grande Guerra. Vários oradores salientam que, apesar da derrota militar, o exército português, "depauperado por uma longa permanência nas trincheiras", resistiu valentemente ao ataque alemão, transformando o 9 de Abril numa data histórica para o país.


O Deputado Carlos Olavo, antigo combatente na Flandres, acusa os poderes políticos da época (3) de "um crime sem nome", ao abandonarem as tropas portuguesas na Flandres, não enviando militares para render os que lá permaneciam ou para substituir as faltas daqueles que "dia a dia, caíam no campo de batalha". Critica ainda o ambiente de "derrotismo e capitulação" criado em torno da participação de Portugal na Guerra:

"Este estado de espírito de derrotismo não podia deixar de atingir o moral das tropas que se bateram, tanto mais que elas tinham perdido a comunicação com a Pátria."

Após dois minutos de silêncio em memória do soldado desconhecido, António Maia apresenta-se como uma voz dissonante relativamente à escolha do dia 9 de abril para a realização da homenagem, entendendo que a data histórica a assinalar deveria ser "aquela em que os homens públicos levaram o país à guerra através de uma campanha de despeitos e traições, para combatermos pela justiça".

Ainda sobre o 9 de Abril, refere que associa a data àqueles "que combateram lá fora pela sua Pátria", mas também àqueles "que na Pátria a atraiçoaram", afirmando mesmo que "uns batiam-se em França, dando o seu sangue pela Pátria, e outros divertiam-se em S. Carlos, vendo os bailados russos". (4)

A sessão termina com a intervenção do Chefe do Governo, Álvaro de Castro, que, enaltecendo os feitos do exército português, se recusa a considerar a Batalha de la Lys como um desastre militar:

"A guerra atual não tem as coisas espetaculosas das guerras antigas.

É muito diferente.

Uma retirada do exército não constitui uma situação desgraçada para ele, mas sim uma página digna de louvor."

(1) Números indicados em: Fraga, Luís Alves de – "O exército português na frente ocidental". Portugal e a Grande Guerra. Lisboa, Assembleia da República, 2015, p. 162.
(2) O CEP é criado em 1916, na sequência da
declaração de guerra da Alemanha a Portugal. A primeira brigada do CEP é enviada para França em janeiro de 1917, durante o Governo da União Sagrada, presidido por António José de Almeida.
(3) À data da Batalha de La Lys, com o Parlamento dissolvido, Sidónio Pais exerce a função de Chefe do Governo, que acumula com as pastas dos Negócios Estrangeiros e da Guerra.
(4) Referência à atuação da companhia Ballets Russes no Teatro de S. Carlos, em Lisboa, no início de 1918.

Mais informações em: www.parlamento.pt
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