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O PARLAMENTO DO TOJAL

A 4 de março de 1915, deputados e senadores foram impedidos de entrar no Parlamento, no Palácio de S. Bento, por forças militares que cercavam o edifício. A maioria parlamentar, do Partido Democrático, liderado por Afonso Costa, pretendia retomar os trabalhos parlamentares.
O Largo do Paço da Mitra em Santo Antão do Tojal. "Ilustração Portuguesa", 1915.

Os deputados encontram-se então no Palácio da Mitra, em Loures, a antiga Quinta dos Patriarcas de Lisboa, transformada em escola primária e residência de professores, situada numa localidade recatada, na qual a “população de lavadeiras vivia desinteressada da política”, como descreveu Rocha Martins.

Reuniram primeiro os deputados (68 no total) e, a seguir, o Congresso da República (deputados e senadores, que perfaziam 90 congressistas). Afonso Costa faz aprovar uma moção em que declara o governo ditatorial de Pimenta de Castro como “fora de lei” e responsabiliza o Presidente da República, Manuel de Arriaga, pela situação.

São contestadas medidas do executivo governamental, em particular, a alteração à lei eleitoral e à data das eleições e a substituição de governadores civis, presidentes de Câmara e administradores de concelho por comissões administrativas de confiança.

Na sala onde os congressistas acaloradamente discutiam encontrava-se um quadro de lousa onde se escreveu a giz “Viva a Constituição! Viva a República”, um cenário imortalizado na reportagem fotográfica de Joshua Benoliel.
 
Usando da palavra, Afonso Costa, personalidade dominante na reunião, manifestou não ter dúvidas de que “a República vingará, que a liberdade triunfará e que a legalidade há de voltar a imperar em Portugal”.

A Ilustração Portuguesa documenta que “nenhum deputado, nem senador do Partido Democrático e dos independentes deixou de ir sancionar com a sua presença aquela grande manifestação coletiva. Até o Sr. Dr. Aquiles Gonçalves, para não faltar, ergueu-se do leito onde havia dias estava doente e, a troco de um grande esforço, conseguiu transportar-se até ali, e depois de cumprir um dever, para ele talvez o mais sagrado, voltou de novo ao seu leito de doente, onde expirou, vítima de uma recaída”.

O governo de Pimenta de Castro terminou com a Revolução de 14 de Maio. Dias depois, a 27 de maio, o Parlamento aprovou todas as deliberações da reunião da Mitra. O Partido Democrático voltou a obter maioria absoluta nas eleições de 13 de junho e Bernardino Machado foi eleito Presidente da República, sucedendo a Manuel de Arriaga. Pimenta de Castro foi deportado para Ponta Delgada, onde morreu em 1918.
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