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Portugal, 2.º quartel do séc. XIX, 170 x 91 x 81 cm, madeira, marfinada e dourada a folha de ouro, veludo e galão de seda, inv.º MAR 84.
Trono de N. Bonaparte para a cerimónia de coroação como imperador, des. C. Percier e P. Fontaine, execução J. Desmalter, 1804, M. Louvre.
Cerimónia inaugural da 1.ª Legislatura do reinado de D. Manuel II (pormenor), 29 de abril de 1908, Fotografia de J. Benoliel, cota AHP/BEN11.
PEÇA DO MÊS | TRONO DE D. MARIA II

Cadeirão de braços em estilo Império com múltiplos ornatos entalhados na estrutura ou aplicados.

Espaldar com medalhão, ao centro 1 estrela de 5 pontas envolvida por círculos concêntricos, o primeiro decorado com motivos vegetalistas (palmitos) e o segundo com 16 estrelas de 7 pontas. Cachaço curvo em forma de coroa de folhas de louro, presa simetricamente por 7 anéis que terminam exteriormente em palmetas, e apoiada, lateralmente, em cálices de acanto que se desenvolvem no arranque dos braços. A tabela de junção ao assento é retangular, preenchida por volutas e, ao centro, por ornato vegetalista que evoca a representação estilizada da abelha do mobiliário napoleónico.

A estrutura inferior tem forma cúbica. Estofo de veludo vermelho no apoio dos braços e no assento, apresentando este, ao centro, 1 reserva quadrada formada por galão de fundo vermelho com ornatos vegetalistas simétricos dourados. Galão idêntico delimita o assento. Saial com motivos florais e vegetalistas simétricos.


Pernas em forma de pilastras decoradas com espigas douradas em que a ligação aos braços simula capitel de acantos com palmeta e voluta. Pés quadrados e nervurados simulando corolas de flores invertidas, sobre base quadrada sem qualquer decoração. Todos estes ornatos refletem a forte influência dos motivos decorativos egípcios no estilo Império.

Estrutura pesada e de dimensões excessivas que revelam alguma desarmonia e falhas conceptuais na adaptação do modelo do trono napoleónico, pelos marceneiros nacionais. Augusto Cardoso Pinto (in Cadeiras Portuguesas, ed. 1952, p. 113) afirma que “o seu recosto circular sugere vagamente a conhecida cadeira de trono de Napoleão I, existente no Palácio de Fontainebleau” pois, de facto, o trono aí exposto atualmente é apenas de modelo semelhante.

Na realidade, este cadeirão procurou replicar, quase na íntegra, um outro trono do imperador de França, o que fora desenhado por Charles Percier e Pierre François Léonard Fontaine, e executado pelo mestre marceneiro Jacob-Desmalter (filho do famoso ebanista George Jacob), para a sua coroação em 1804, proveniente de Fontainebleau mas agora exposto no Museu do Louvre. O retrato do imperador executado por Ingres em 1806, num terceiro trono de modelo idêntico, e a divulgação das obras de Percier e Fontaine contribuíram para a criação do novo modelo de trono régio, rápida e largamente adotado pela generalidade dos monarcas. Os tronos de Carlos X de França, Luís I da Baviera ou do imperador do Brasil D. Pedro II, entre outros, mimetizam o modelo como moda dominante, adaptando os motivos decorativos sem qualquer interpretação simbólica, como é o caso do trono de D. Maria II. A exuberante decoração de fio de ouro sobre veludo azul do estofo do trono napoleónico, este em talha dourada, foi aqui transcrita de forma mais sumária, e mais económica, em ornatos de talha baixa dourados sobre fundo marfinado.

Em Portugal, D. João VI fez-se retratar por Domingos Sequeira, c. 1822-23, junto de um trono com características semelhantes (Museu Nacional de Arte Antiga, inv.º 2088P). No entanto, os monarcas subsequentes a D. Maria II optaram por cadeirões de aparato com estrutura mais leve e harmoniosa, de acordo com a evolução estética do mobiliário europeu, como podemos observar na fotografia de Joshua Benoliel da cerimónia de abertura da 1.ª Legislatura do reinado de D. Manuel II, em abril de 1908. D. Fernando II, marido de D. Maria II, encomendara-os em Paris ao marceneiro Lemarchand c. 1845-1846 para o Palácio das Necessidades e integram atualmente o acervo do Paço Ducal de Vila Viçosa.

O trono de D. Maria II foi objeto de restauro após 1952, sendo refeitas inúmeras lacunas nos ornatos, sobretudo no espaldar e pernas, e substituído o estofo sobre o qual foi aplicado galão com motivos decorativos adequados ao estilo original deste mobiliário.
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