Retrato de Manuel de Arriaga. António Novais (1855-1940), 1912. Pintura a óleo sobre tela, 88x72,5 cm, n.º inv. MAR 5592.
Proclamação do primeiro Presidente da República na varanda do Palácio de S. Bento, 24 de agosto 1911. Fotografia de Joshua Benoliel. BEN 33.
PEÇA DO MÊS | RETRATO DE MANUEL DE ARRIAGA
Retrato de Manuel José de Arriaga Brum da Silveira (1840-1917), primeiro Presidente da República, eleito pela Assembleia Nacional Constituinte após aprovação da nova Constituição em 24 de agosto de 1911. Esta obra foi realizada pelo fotógrafo e pintor-retratista António Novais, a partir de uma fotografia largamente difundida na época da autoria de Vasques, com caráter meramente documental e ilustrativo.
A figura, ao centro, ocupa a quase totalidade da tela, retratada a meio corpo e de braços cruzados, virada a três quartos à direita mas com o rosto quase de perfil. A paleta cromática é muito reduzida, cingindo-se aos negros e cinzentos, a luz proveniente da direita concentra-se no rosto, realçando a farta cabeleira embranquecida, o bigode e a pera. Sobre o nariz, apoiam-se óculos de aro fino sem hastes. O colarinho subido e os punhos brancos da camisa são os únicos pontos que se destacam do casaco negro. O fundo é uma mancha difusa de tonalidades cinza, réplica da fonte iconográfica (uma fotografia realizada no atelier do fotógrafo), sem criação de qualquer composição adicional. Assinado e datado no canto inferior direito A. Novaes/912. No canto superior esquerdo tem a inscrição Dr. Manoel Arriaga/1º Presidente /da/República/1911.
A modesta composição, muito aquém do retrato institucional realizado por Columbano para o Palácio de Belém, transmite, no entanto, o porte digno do retratado. Homem austero, discreto, para quem o desempenho do mais alto cargo político do novo regime fora o corolário dos ideais republicanos a que aderira convictamente na juventude. O exercício da política era uma questão de cidadania e de ética. Formado em Direito em Coimbra, de cuja universidade foi reitor de outubro de 1910 a fevereiro de 1911, e membro do diretório do Partido Republicano, foi eleito deputado quatro vezes em representação do círculo da Madeira entre 1882 e 1892. Nomeado Procurador da República em novembro de 1910 e eleito deputado à Assembleia Constituinte de 1911, foi eleito para primeiro Presidente da República, cargo cujo exercício viria a ser profundamente afetado pelos conflitos surgidos entre as fações do Partido Republicano e que levaram ao seu desmembramento. A reação ao governo de Pimenta de Castro, nomeado em 1915 por iniciativa presidencial, culminou em revolta com centenas de mortos e na destituição do governo, o que levou Manuel de Arriaga a resignar e afastar-se da vida política.
Manuel de Arriaga está sepultado no Panteão Nacional de Santa Engrácia para onde foi transladado, a 16 de setembro de 2004, do jazigo de família no cemitério dos Prazeres, por voto unânime da Assembleia da República.
O autor do retrato, António Novais, era um conhecido fotojornalista, ativo essencialmente entre 1902-1912. O retrato foi realizado para uma galeria de retratos de republicanos ilustres (todos do mesmo autor) que chegou à atualidade através do antigo Centro Escolar Republicano Elias Garcia. Instalado no Palácio de D. Gastão, na Calçada de D. Gastão em Lisboa, entre 1908 e 1974, foi aí substituído por uma sede do Partido Comunista Português, mantendo-se no local o acervo do Centro Escolar Republicano, o qual transitou para um proprietário particular com a aquisição do edifício em 1994. A Assembleia da República adquiriu em 2016 dois retratos desta coleção, o de Bernardino Machado e o de Manuel de Arriaga, como documentos iconográficos e para exposição permanente no Palácio de S. Bento, em homenagem ao primeiro Presidente eleito após a implantação da República em 1910.